Esse Natal foi diferente, e não do jeito bom que eu gosto. Eu senti falta dela desde que acordamos de manhã. Ela sempre era a primeira a correr até a árvore de Natal, balançando o rabinho e cheirando tudo como se também estivesse curiosa pelos presentes. Dessa vez, estava só o silêncio.
Minha mãe tentou me animar. Me deu uma meia com estampas de patinhas, dizendo que era um presente “dela pra mim”. Eu sorri um pouco, mas só por fora. Por dentro, parecia que um pedaço do Natal tinha sumido.
Lembrei de todos os outros Natais. Ela adorava quando colocávamos a roupinha de rena nela. Ficava meio sem jeito no começo, tentando arrancar o capuz com os dentinhos, mas logo desistia e ficava tão bonitinha! Todo mundo ria e dizia que ela era a rena mais fofa do mundo.
Hoje, quando a gente sentou pra comer, senti a falta dela de novo. Ela sempre ficava deitadinha perto da mesa, esperando alguém deixar cair um pedacinho de comida. Às vezes, eu deixava cair de propósito, só pra ver aquele jeito rápido e engraçado que ela pegava.
Quando fomos abrir os presentes, meu pai colocou um vídeo antigo da gente com ela, lá no Natal do ano passado. Foi quando eu chorei. Não deu pra segurar. Fiquei com vergonha no começo, mas então minha mãe me abraçou e também começou a chorar. Meu pai disse que não era pra gente ficar triste, porque ela estava em um lugar especial agora, onde nunca mais sentiria dor ou fome.
Eu queria acreditar nisso. Quer dizer, eu acredito, mas queria que ela estivesse aqui também. É egoísmo, eu sei, mas ela era minha melhor amiga.
À noite, antes de dormir, fui até a janela. O céu estava cheio de estrelas, e uma delas parecia brilhar mais forte. Eu fiquei olhando pra ela e pensei: Será que é você?
Então, eu fechei os olhos e sussurrei: “Feliz Natal. Espero que esteja quentinha aí em cima, com sua roupinha de rena.”
E pela primeira vez naquele dia, eu senti uma paz diferente. Acho que ela sabia que eu estava pensando nela. E isso foi como um presente, o melhor que eu poderia ter naquele Natal.